Linhas de TorresA nossa história está presente

Guerra Penínsular e Invasões Francesas

A Guerra Peninsular, conhecida em Portugal como as Invasões Francesas e em Espanha como Guerra da Independência Espanhola, decorreu entre 1807 e 1814, na Península Ibérica. Esta guerra inseriu-se num conflito bem mais abrangente que afetou toda a Europa - As Guerras Napoleónicas.

As invasões francesas foram uma das maiores ofensivas militares alguma vez realizadas ao território português, que deixaram marcas profundas nos locais e nas gentes dessa época, mas a resistência anglo-lusa marcou o início do retrocesso das conquistas de Napoleão Bonaparte.

No início do século XIX, Napoleão era "senhor" de quase toda a Europa. Invencível em terra decretou, em 1806, o "Bloqueio Continental" exigindo o fecho dos portos europeus aos navios britânicos para assim asfixiar economicamente o adversário.

Neste cenário de hostilidade entre duas grandes potências - França e Inglaterra - que disputavam entre si a hegemonia da Europa, Portugal estava perante um dilema: obedecer a Napoleão e antagonizar a sua velha aliada, ou manter-se fiel aos ingleses, declarando guerra à França. A posição de neutralidade que assumiu não agradou a Napoleão que, em setembro de 1807, emitiu nova ordem para o encerramento dos portos portugueses. Porém, apenas a 05 de novembro, ao saber que as tropas napoleónicas tinham entrado em Espanha, Portugal resolve impedir o movimento de barcos ingleses, estando já em curso a primeira invasão francesa.

Em Novembro de 1807, Jean-Andoche Junot chegou a Lisboa a tempo de ver partir, do Tejo, a Família Real e a corte portuguesa, em direção ao Brasil. Em agosto de 1808, o exército anglo-português derrotou as tropas francesas nas batalhas do Vimeiro e da Roliça - este foi o primeiro dos três falhanços franceses para conquistar Portugal.

Em 1809, o general Soult conduziu a segunda invasão francesa numa ofensiva pelo norte do país que culminou no triste episódio da queda da ponte das Barcas, no Porto (março). Pressionados pelo exército anglo-português, os franceses retiraram para Espanha (maio).

Em julho de 1810, o marechal André Massena renova a ofensiva a Portugal, no comando da terceira invasão. Após sofrer uma derrota na batalha do Buçaco (setembro), reorganizou as suas tropas e prosseguiu a marcha para Lisboa. Wellesley (futuro duque de Wellington) antecipou-se ao invasor e fez recuar o exército aliado para as defesas da capital - As Linhas de Torres Vedras. Deparando-se com este obstáculo intransponível, Massena iniciou a sua retirada do território nacional, em março de 1811.Esta derrota foi o prenúncio do fim do sonho de Napoleão em dominar toda a Europa.

O que são as Linhas de Torres

As Linhas de Torres são um sistema militar defensivo erguido a norte de Lisboa, entre 1809 e 1810. No mais profundo secretismo, o futuro duque de Wellington, acompanhado pelo seu engenheiro principal, o Coronel Fletcher, por generais dos exércitos britânico e português e pelos mapas do Major Neves da Costa, concebeu uma estratégia de defesa que consistiu em fortificar pontos colocados no topo de colinas, controlando os caminhos para a capital do Reino e reforçando os obstáculos naturais do terreno. As obras de defesa estavam distribuídas ao longo de três linhas que se estendiam entre o oceano Atlântico e o rio Tejo.

A Primeira Linha, com 46 km, ligava o rio Tejo, em Alhandra, à foz do rio Sizandro, em Torres Vedras, passando por Arruda e Sobral. As grandes obras avançadas do Alqueidão e de S. Vicente tinham por função bloquear as principais vias de acesso à capital portuguesa.

A Segunda Linha, situada a 13 km a sul da anterior, com 40 km, ia de Vialonga até Ribamar, passando por Bucelas e Mafra.

A Terceira Linha, com um perímetro de 3 Km, protegia o embarque das tropas britânicas, em caso de retirada. Seguia o percurso de Paço de Arcos às Torres da Junqueira.

Quando concluídas, as Linhas de Torres estendiam-se por mais de 85 km, contavam com 152 obras militares, armadas com 600 peças de artilharia e defendidas por cerca de 140 000 homens. O custo da sua construção terá rondado as 100 000 libras, tornando-se no sistema de defesa mais eficaz, mas também mais barato da história militar.

Os Fortes de Sobral, pela sua posição no terreno, assumiram uma importância tática preponderante nos planos de Arthur Wellesley: se o inimigo ultrapassasse o grande reduto do Alqueidão teria à sua disposição os itinerários interiores da Península de Lisboa e o corredor do rio Tejo, comprometendo toda a unidade defensiva.

Na retaguarda do Alqueidão, o comandante inglês fixou o seu quartel-general e fez da Vila de Sobral um posto avançado, abandonado com a chegada das tropas francesas, por se situar demasiado a norte da linha defensiva. Ao observar a posição do Alqueidão, Massena recusou-se a fazer qualquer ataque a uma encosta tão formidável e decidiu retirar-se da frente das Linhas a 15 de novembro de 1810.

Nas "Memórias Francesas sobre a 3.ª Invasão", o coronel Nöel descreveu o sentimento das tropas francesas frente às Linhas de Torres, que em tudo contribuiu para o insucesso do exército napoleónico:

"Julgávamo-nos vitoriosos, pensávamos ter chegado ao fim de uma campanha gloriosa e alcançar os nossos aquartelamentos de inverno na capital de Portugal, mas temos de o passar num país devastado (...) junto a estas terríveis Linhas, sobre cuja solidez não podemos iludir-nos (...). O general-chefe decide-se a deslocar o exército para trás (...)."

Coronel Nöel 

A 4 de março, estando esgotados todos os recursos, os franceses continuam a sua retirada para o vale do Mondego. Já com as tropas francesas na fronteira, Wellington venceu, a 13 de maio de 1811, a batalha de Fuentes de Oñoro, não voltando o inimigo a atravessar a fronteira portuguesa.

A retirada do exército de Napoleão continua por Espanha, até as tropas anglo-hispano-portuguesas chegarem a França, no final de 1813. Pressionado militarmente por toda a Europa com a invasão da própria França, Napoleão é obrigado a capitular, retomando os Bourbon o trono francês a 30 de maio de 1814, com a assinatura do Tratado de Paris.

Menos de um ano depois, Napoleão retornou ao poder, mas foi derrotado na Batalha de Waterloo, em junho de 1815, pelos exércitos da Sétima Coligação que incluíam uma força britânica liderada pelo Duque de Wellington e uma força prussiana comandada por Gebhard Leberecht von Blücher.

Este confronto marcou o fim dos Cem Dias e foi a derradeira batalha de Napoleão; a derrota terminou com o seu governo como Imperador. Napoleão passou os últimos seis anos de sua vida confinado pelos britânicos na ilha de Santa Helena e a Europa encetou um novo ciclo na História.